Card. Parolin: “Nunca faltem solidariedade e atenção aos outros”

A diplomacia da Igreja, o Sínodo da Amazônia e o fenômeno da migraçã são alguns dos temas abordados pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, em diálogo com o diretor do jornal italiano Avvenire.

Amedeo Lomonaco, Cristiane Murray – Cidade do Vaticano

Papa Francisco e a diplomacia da Igreja

O Cardeal Parolin sublinhou que “o Papa Francisco se integra na diplomacia da Igreja com três características particulares”. Antes de tudo, o Pontífice “nos convida a não considerar os problemas em abstrato, mas no concreto, tendo sempre diante de nós os rostos das pessoas: crianças, idosos, marginalizados, vítimas da violência”. A segunda característica é ligada às periferias: “Antes de haver uma visão predominantemente eurocêntrica, o Papa tenta introduzir uma perspectiva diferente. São as periferias que ajudam o centro a compreender a realidade do mundo de hoje”. A terceira característica “é a pró-atividade: não nos limitarmos a reagir às crises, mas tentar preveni-las e estar presentes, tendo em conta os modestos meios à nossa disposição”.

A alegria de sentir-se amado pelo Senhor

O diretor de Avvenire perguntou ao cardeal Parolin quais foram os melhores momentos e quais foram os mais críticos ao lado do Papa. O cardeal respondeu que o que sempre o impressionou foi a atitude de serenidade do Papa Francisco. “O Papa pode estar preocupado com os problemas, mas depois enfrenta-os sempre com grande paz interior. Impressiona-me – acrescentou o Cardeal Parolin – a sua insistência na alegria, que ousaria definir quase uma figura do seu pontificado e que, obviamente, se pode aplicar também no campo da diplomacia: ninguém nos pode tirar a profunda alegria de nos sentirmos amados pelo Senhor, que conduz a história para além das muitas agitações dos homens”.

Viagens apostólicas e escolha dos países a visitar

Marco Tarquinio também perguntou ao Cardeal Parolin quais são os critérios que conduzem o Papa ao escolher os países a visitar. “Para compreendê-lo – respondeu o cardeal – basta percorrer a lista dos países visitados este ano. Há o critério do diálogo inter-religioso testemunhado pelas viagens a países islâmicos como Marrocos e os Emirados Árabes Unidos. Depois a questão ecumênica, com visitas a nações ortodoxas como a Bulgária, a Macedônia do Norte e a Romênia. A próxima viagem à África – recordou então o cardeal – apresenta um terceiro critério: a atenção às comunidades cristãs mais periféricas e sofredoras, a serem confortadas e encorajadas. Esta é a perspectiva em que são colocadas as esperadas visitas ao Sudão do Sul e ao Iraque. Visitas que mostram outro critério – a preocupação com a paz – também será testemunhada pela viagem ao Japão.

O Cardeal Parolin também falou sobre o Sínodo sobre a Amazônia, previsto para 6-27 de outubro. “Alguns – disse o Secretário de Estado – expressam preocupação com a natureza política dessa assembleia em referência à soberania sobre a Amazônia. A Santa Sé reiterou o caráter eclesial e pastoral do evento. Isso não significa, porém, ignorar a realidade concreta, os problemas vividos pelos povos daquela região e o fato de que a Amazônia também é um bem da humanidade e, como tal, deve ser preservada”.

Situação na Venezuela

Finalmente, o Cardeal Parolin, referindo-se à situação na Venezuela, destacou que “a partir das notícias vindas de fontes confiáveis, emerge o quadro de um drama que continua e se aprofunda, na incapacidade de encontrar respostas efetivas que revertam a tendência. Na minha opinião a solução deve ser essencialmente política. Há várias propostas em cima da mesa – como por exemplo, nas negociações patrocinadas pela Noruega – mas que exigem sabedoria, coragem e vontade de procurar o verdadeiro bem da população por parte dos atores envolvidos. A Santa Sé não cessa de acompanhar o país apoiando todas as iniciativas capazes de favorecer desenvolvimentos positivos”.