Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)
Caros amigos, celebramos nesta semana o grande dia da vitória de Jesus sobre a morte. Sua ressurreição inaugura um mundo novo, libertado da escravidão do pecado, revelando o imenso amor divino, que vem em socorro da miséria humana.
Deus, apesar de inúmeras vezes experimentar nossa infidelidade, sempre está de braços abertos para nos acolher em Sua misericórdia, concedendo-nos uma vida nova (cf. Lc 15,11-32).
É verdade que enfrentamos tempos difíceis. A violência, fruto da intolerância, se faz notar em todos os cantos. Sentimos as trevas dominarem o tempo e o antigo inimigo da humanidade ampliar o seu reino, instaurando o ódio e a desunião entre os homens. Prova disso, são os inúmeros atentados contra a dignidade humana e à liberdade religiosa. O terrível atentado sofrido pelos cristãos no Sri Lanka, no domingo de Páscoa, é um exemplo recente desta realidade.
Muitas vezes, nos encontramos como aquelas mulheres que caminham em direção ao túmulo de Jesus, com o coração invadido pelo desânimo e pela tristeza diante da violência e da morte. “Parece que tudo vai se estilhaçar contra uma pedra: a beleza da criação contra o drama do pecado; a libertação da escravatura contra a infidelidade à Aliança; as promessas dos profetas contra a triste indiferença do povo” (Papa Francisco, 20 abr. 2019).
Temos a impressão que cada passo de nossa peregrinação neste mundo só nos conduz ao fracasso e à frustração da esperança. Mas, ao contemplarmos a Ressurreição do Senhor, vemos que o caminho não é em vão. Cristo, ressuscitado dentre os mortos, é Senhor de uma vida incorruptível. Nós, já participamos desta vida graças ao Espírito Santo derramado em nosso Batismo (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1002-1003).
Deus feito homem, com Sua morte, rompeu o muro da inimizade que separa a criatura do Criador. Do alto da cruz, derramou sobre a humanidade a graça do Espírito, retirando o nosso coração de pedra e nos devolvendo a beleza de Sua imagem e semelhança.
Em Sua carne, Cristo venceu o antigo inimigo e revelou a imensidão do Seu amor. Todo amor exige reciprocidade. Por isso, todo aquele que foi alcançado pelo Mistério da Salvação deve converter-se em testemunha, fazendo brilhar a luz do Redentor onde as trevas da ignorância se fazem sentir em tantos irmãos.
São Paulo adverte que a experiência da ressurreição não pode fechar-se em si mesma, precisa traduzir-se na conversão do coração: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Ele está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra” (Col. 3,1-2).
A luta contra as trevas é árdua e exige uma grande medida de esforço pessoal e comprometimento consciente em meio as adversidades desta vida. A vitória de Cristo sobre a morte, revela que todos os nossos sofrimentos pelo bem florescerão ao seu tempo e nos renova as forças no trabalho de construção do Reino de Deus.
Não permitamos que nosso coração, depois de ter encontrado o Ressuscitado, se ache entre os mortos. Que nesta Páscoa o Senhor não nos encontre frios e indiferentes, mas atentos às necessidades dos que sofrem as consequências da morte e do pecado.
Fonte: CNBB