Na primeira leitura de hoje, Jó nos propõe que a vida do homem sobre a terra é uma constante luta e que temos dias como os dias de um mercenário ou de um escravo, esperando nosso pagamento ou suspirando até mesmo pela sombra que nos alivia do calor. E por aí vamos, do amanhecer até o anoitecer, de sofrimento em sofrimento; os dias se vão passando e nós com eles, por vezes, tendo como horizonte somente a infelicidade.

Jó experimenta um longo período de sofrimento e nós podemos ter a sua história como um espelho que reflete a nossa própria vida; principalmente quando olhamos os seus momentos de provações: doença, suas dores, seus questionamentos, suas desventuras. Sua vida questiona a nossa existência, que parece igualmente randômica: bem e mal, vigor, alegria, doença, dor, paz, guerra.

De fato, experimentaremos, em maior ou em menor medida o sofrimento, a doença, as dores, as desventuras, mas, não podemos esquecer que teremos bons momentos, todo sofrimento tem seu fim. Mas, diante do sofrimento, que caminho escolher? Jó escolheu o caminho da oração: rogou a Deus para que dele se lembrasse. Essa oração fez a diferença na vida de Jó, pois, Deus restituiu tudo o que lhe fora tirado. E Deus se recorda de nós, assim como se lembrou de Jó, e nos é favorável ao enviar o seu filho, que assumiu a nossas dores e nos trouxe a salvação.

No sofrimento podemos recorrer a Jesus, que nos livra de todos os males, nos faz levantar e tem pressa de nos comunicar a Boa Nova da sua vida em nossas vidas.

A Boa Nova é destacada no Evangelho de Marcos desde o seu início. Já no primeiro versículo temos o fio condutor de todo o relato do evangelista: ‘início da Boa Nova de Jesus Cristo, Filho de Deus’. Esse simples versículo nos ajuda a entender a proposta desse evangelho como um todo, e nos ajuda a entender a liturgia de hoje. A Boa Nova para nós é uma pessoa, Jesus Cristo, tudo o que ele fez e ensinou diz respeito a como Deus nos olha, como seus filhos.

Não somos destinados ao sofrimento, mas, para a Glória de Deus. Mesmo que nessa vida haja dor, doença e sofrimento, a Boa Nova, que é Cristo, nos mostra que há algo que vai além dessas realidades. Ao curar a sogra de Simão, Jesus percorre o caminho da nossa cura e da nossa salvação; ele sai da sinagoga, lugar da aliança de Deus com o povo e parte para a casa de Simão e André, vai ao encontro dos herdeiros dessa aliança. A sogra de Simão se encontra doente, incapaz de servir a Deus; Jesus a cura e ela passa a servi-los, retoma a sua vida e partilha o seu novo vigor. Outros doentes e alguns endemoniados são levados a Jesus e Ele os cura, estendendo a salvação para mais pessoas, agora, não somente para os herdeiros da promessa.

A missão de Jesus continua: ‘Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim’. E nós somos continuadores dessa missão. A experiência com o Deus que cura nos impulsiona para anunciar a Boa Nova. São Paulo nos diz que a pregação dessa mesma Boa Nova não é para ele motivo de glória, antes é uma necessidade, uma imposição; uma iniciativa de Deus, que lhe confia um encargo. Para São Paulo, o salário do evangelho é a própria graça de pregá-lo e se colocar como servo de todos, fracos e fortes, doentes e sãos, para ganhar o maior número de pessoas possível.

A nossa vida, a partir da Boa Nova, assume a característica da gratuidade, não vivemos mais como mercenários, nem como escravos, que buscam pagamento e sombra para aliviar o calor, mas, vivemos como filhos e filhas de Deus e colaboradores na obra da salvação. Enfermidade, sofrimento e insegurança rondam a vida do homem. Nesse ambiente incerto colocamos a nossa vida e o nosso caminhar rumo a Deus, acreditando que Nele há um horizonte de felicidade. É muito importante sempre lembrarmos que Jesus inaugurou para nós um novo tempo, o tempo da Boa Nova, onde somos curados das nossas enfermidades e temos alguém com quem partilhar os nossos sofrimentos e que promove em nossas vidas a obra da salvação.

Paz e Bem!”

Frei Charles Magalhães Sales, FMM