Cidade do Vaticano
Como ser leigos que transformam o mundo e a sociedade em que vivemos? A subsecretária do Dicastério vaticano para os leigos, a família e a vida, Linda Ghisoni – concluindo o encontro, organizado de 1º a 4 de agosto em Ávila, na Espanha, pela Ação Católica Geral com o tema “Realizar o sonho de Deus” –, sugeriu um itinerário para a formação do laicato na paróquia.
“Não podemos pensar ser leigos transformadores das realidades em que vivemos e trabalhamos se não formos por primeiro transformados”, afirmou Ghisoni, abrindo o diálogo com os 750 leigos, provenientes das 45 dioceses da Espanha, presentes no encontro com dez bispos e sessenta sacerdotes.
A partir do batismo, testemunhar Evangelho com nossa vida
“Mas é preciso tomar consciência – acrescentou – de que o nosso ser fiéis leigos significa viver como batizados: carregamos conosco o dom de ser renascidos, chamados e convidados a levar não ideias bonitas ou projetos, mas a testemunhar o Evangelho com a nossa vida.”
E assim, propriamente enquanto “fiéis leigos conscientes do batismo, dos direitos e deveres originados por ele, conscientes de ser chamados, somos por vocação enviados” que, “para viver de modo sadio e consciente o protagonismo oriundo do batismo”, voltam à “fonte”, mediante a oração e a partilha com os outros, cultivando a formação.
Estabelecer relações baseadas no perdão e acolhimento
“Como leigos – prosseguiu a subsecretária do Dicastério vaticano –, não podemos desencarnar-nos em relação à realidade em que vivemos, do contrário, trairemos nossa vocação”: daí, o apelo a fim de que cada um “se pergunte como pode viver com renovada consciência seu ser fermento”, não somente “nos ambientes de Igreja, mas propriamente nos lugares e momentos ordinários da vida cotidiana, nos contextos de vida pública”.
“Se somos transformadores – enfatizou Ghisoni –, então somos capazes de estabelecer relações novas com os outros, baseadas no perdão, escuta, paciência, diálogo e acolhimento.”
Missão eclesial a ser vivida em corresponsabilidade
Conscientes de que a nossa missão “é uma missão eclesial, a ser vivida em corresponsabilidade, em comunhão com os outros irmãos e irmãs, com os párocos, com os bispos”, longe da “inércia paralisante” ou do ter que ser necessariamente “religiosos especialistas de série A”.
Em particular, Ghisoni chamou a atenção para “alguns riscos, tentações insidiosas para a nossa vida que neutralizam nosso esforço”. Em primeiro lugar, a ideia de realizar projetos e planos de ação pastorais inspirados nas melhores intenções, guiados pelo nosso esforço voluntário: mas não podemos fabricar o sonho de Deus.
Porém, advertiu, “podemos também cair na tentação oposta: permanecer a nível de pensamento, de ideias, regozijando-nos em explicações teóricas, sem comprometer-nos concretamente, mas aprazendo-nos de modo narcisista com belas construções e ideias sobre os leigos, sobre a Igreja, sobre a formação”.
Riscos concretos oriundos do pelagianismo e agnosticismo
E “esses extremos representam riscos concretos para nós hoje e têm suas raízes em duas heresias que apareceram nos primeiros séculos do cristianismo: o pelagianismo e o gnosticismo que continuam sendo de alarmante atualidade”, como denunciou o Papa Francisco na Exortação apostólica Gaudete et exsultate.
“Os desafios e as dificuldades diárias não são um erro de fabricação, são o lugar que espera ser vivido por nós como cristãos, de modo que nenhuma situação possa ser uma situação de morte, de desencorajamento, mas onde somos testemunhas da vida, do amor que em Cristo vivifica, tudo transforma”, concluiu.
(L’Osservatore Romano)